“... é para um Cristo vivo nos céus que os crentes são reunidos pelo Espírito Santo. Estamos unidos a um Chefe vivo — fomos levados a uma "pedra viva" (1 Pe 2:4). O Senhor é o nosso centro. Havendo achado paz pelo Seu sangue, nós reconhecemos que Ele é o nosso grande centro de reunião e o laço que nos une. "Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles" (Mt 18:20). O Espírito Santo é o único que promove a reunião; Cristo é o único objetivo em volta do qual nos reunimos; e a nossa assembleia, assim convocada, deve ser caracterizada pela santidade, de maneira que o Senhor nosso Deus possa habitar entre nós. O Espírito Santo só nos pode reunir para Cristo; não nos pode reunir em torno de um sistema, um nome, uma doutrina ou uma ordenação. Ele reúne para uma Pessoa, e essa Pessoa é Cristo glorificado no céu.”– Mackintosh

A Vida Centrada no Eu

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009



No texto original do livro de Ester, a palavra ´rei´ aparece cento e sessenta e nove vezes, o nome ´Assuero´ é citado vinte e nove vezes e a palavra ´reino´ aparece em onze ocasiões. O nome de Deus, no entanto, não é citado uma única vez. Pode-se concluir que a história é centrada em Assuero e que ele é o personagem principal da narrativa. Caso contrário, como explicar a sua presença em todo o livro? O rei Assuero representa o ´eu´, conseqüentemente, sua personagem representa a vida centrada no ´eu´. Uma vez que o livro de Ester está repleto de sombras do ´eu´, é possível perceber por que o nome de Deus tenha desaparecido da narrativa.

Sempre que o ´eu´ rouba a cena, Deus afasta-se silenciosamente. Nesse aspecto, o livro de Ester assemelha-se muito a Romanos 7, também repleto da palavra ´eu´ - ao todo quarenta e oito citações - em contraste com a palavra Espírito Santo, que aparece uma única vez. No entanto, há uma grande mudança no capítulo 8, o número de menções da palavra ´eu´ diminui, aumentando as menções ao Espírito Santo - pelo menos dezenove. O livro de Ester aparenta ser como o capítulo 7 do livro de Romanos, no entanto, é ao capítulo 8 que o seu desenrolar se assemelha. Podemos então afirmar que Romanos 7 e 8 são chaves para o livro de Ester.

O fato de Paulo mencionar muitas vezes a palavra ´eu´ em Romanos 7, e as constantes menções ao rei Assuero no livro de Ester lembra-nos de um pássaro dos Estados Unidos, chamado ´Me´. Ele canta uma única melodia o dia inteiro, não para de entoar ´Me´, de seu interior flui somente a palavra ´Me´, nunca muda, é sempre ´Me´. Por isso recebeu o nome ´Me´. Na língua inglesa, a palavra ´Me´ é o pronome objeto para ´eu´. Esse pássaro não canta ´piu-piu´, mas entoa ´eu-eu´ todos os dias. O que o pássaro ´Me´ cantarola é exatamente a ´canção´ que Paulo entoa no capítulo 7 de Romanos. É também a música de Assuero no livro de Ester. Na realidade, não é essa também a canção do homem natural, todos os dias? Ele pensa constantemente em seu ´eu´, sua preocupação é ´eu´, o que ama é ´eu´, por conseguinte, o que expressa é ´eu´. Para muitos de nós é ´eu´ em tudo e tudo é ´eu´. Ao acordar sou ´eu´, o meu sonho é ´eu´.

Certa vez, na cidade de São Paulo, um grupo de irmãos chineses reunido lia o livro de Ester. Ao chegar no trecho referido, eles tomaram emprestado a melodia do Disney - "Um pequeno mundo" - para cantar a música do pássaro ´Me´. Em português a palavra ´Me´ é o pronome ´eu´, mas na congregação havia irmãos que somente conheciam a língua chinesa e a pronúncia de ´eu´ em chinês é ´fã´. Assim, eles trocaram o ´eu´ por ´fã´. Quando todos cantaram simultaneamente a música do pássaro ´Me´, uns cantavam ´eu´, outros cantavam ´fã´. Unindo as duas palavras, obtém-se a expressão ´eu-fã´. O resultado dessa união sino-brasileira não foi somente cômico, mas muito ilustrativo. Coincidentemente essa combinação alertou que verdadeiramente somos ´eu-fãs´, ou seja, todos fãs do ´eu´. Hoje temos fãs de futebol, fãs do xadrez, fãs do cinema, mas acima de tudo, o homem é fã de si mesmo, inclusive o cristão.

Os cristãos devem pedir misericórdia ao Senhor, pois muitas vezes dizem amá-lO, mas na verdade, o que ainda amam mais neste mundo é o seu próprio eu. Seus pensamentos estão repletos de si próprios, são um verdadeiro rei Assuero. Se não tivessem riqueza alguma, não hesitariam em deixar o Senhor reinar! Mas o homem natural acredita que tem algo de bom em si mesmo, o que o faz pensar constantemente ao seu respeito: "Se sou o centro, ao formar uma família, serei o centro. Também sou o centro na congregação. Cristo morreu por mim na cruz. Cristo me ama por minha causa". É bom sabermos que Cristo nos ama, o problema é quando nos tornamos o centro! Desse modo, apesar de amar ao Senhor, o resultado é semelhante ao livro de Ester, a presença de Deus e Seu nome não são vistos claramente enquanto a expressão do homem natural e o seu nome ficam em destaque. Isso leva ao louvor dos homens e faz com que o nome de Deus não seja louvado, nem a Sua glória reconhecida.

A Forte Luz do Eu

Quantas vezes o cristão permite que Cristo ocupe o primeiro lugar em todas as coisas, decide que Ele será o centro de sua vida, e submete-se a Ele? Quando a luz por trás é muito forte, ainda que Deus seja o personagem principal, só é possível ver a Sua sombra, ter uma vaga impressão daquilo que Ele é. É isso o que percebemos no livro de Ester, é possível ver a obra de Deus, todavia é impossível ver o Seu nome.

Ao olharmos, de dentro para fora, para uma pessoa diante de uma janela no sol do meio-dia, percebemos apenas a sua silhueta. O seu rosto não pode ser visto porque a luz que está no fundo é muito forte. Isso explica porque não se lê o nome de Deus no livro de Ester. A luz de Assuero destacou-se muito e só podia-se ver a sombra de Deus por meio de Suas obras. Isso é um alerta para todos os que amam e servem ao Senhor. Quantas vezes o nosso Cristo deveria estar na posição de liderança, mas a vida do nosso ´eu´ é tão forte, nossa alma tão vívida e nossos pensamentos tão grandiosos que, o que os outros claramente vêem é a nós mesmos, ao invés da Sua beleza e da Sua glória, as quais perdemos no processo. As pessoas podem ver alguém que ama ao Senhor, mas não conseguem tocá-lO.

Christian Chen

Extraído do livro "Um Vislumbre do Livro de Ester - O Gozo no Espírito Santo" do irmão Christian Chen da Edições Tesouro Aberto
Fonte: Site Celebrando Deus

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