sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
"Todos os atletas correm mas só um ganha o prêmio"Viver para a medalha de ouro
Ao ler a conclusão do capítulo nono da primeira carta de são Paulo aos Corintios, posso imaginar facilmente que ele teria acabado de assistir aos jogos olímpicos.
Escreve ele:
“Vocês não sabem que no estádio todos os atletas correm, mas só um ganha o prêmio? Portanto, corram, para conseguir o prêmio. Os atletas se abstêm de tudo, eles, para ganhar uma coroa perecível, e nós, para ganharmos uma coroa imperecível. Quanto a mim, também eu corro, mas não como quem vai sem rumo. Pratico o pugilato, ma não como que luta contra o ar. Trato com dureza o meu corpo e o submeto, para não acontecer que eu proclame a mensagem aos outros, e eu mesmo venha a ser reprovado”.
Mais de dois mil anos depois, estas palavras parecer acertar ainda mais no alvo do que quando foram escritas. Ao ver na televisão as Olimpíadas de Barcelona de 1992, fiquei profundamente impressionado, até talvez um tanto “esmagado”, pela dedicação incondicional e pela vigorosa disciplina com que os atletas treinavam para vencer as medalhas de ouro. Centenas de corredores, saltadores, mergulhadores, ginastas e outros atletas dedicaram todos os momentos da sua vida para conseguirem aquele pequeno patamar do supremo sucesso.
Segui com especial atenção o francês Gatier e o sueco Waldner na final de ping-pong. A questão responsável pela tensão quase insustentável entre os jogadores e nos milhares de escpectadores, incluindo o rei Gustavo da Suécia e a sua esposa, era a seguinte: “Quem destes dois homens conseguirá o ouro e quem terá que se contentar com a prata?”
Com incrível virtuosismo, os dois rivais dançaram à volta da mesa acertando na pequena bola amarela de longe e de perto, ultrapassando-se um ao outro e surpreendendo constantemente os fãs que não se cansavam de gritar. A energia, a rapidez, a agilidade e a exatidão com que Waldner e Gatier faziam os seus pontos mantiveram a expectativa, sem se saber até ao último segundo quem seria o vencedor.
E eis que, finalmente, o sueco conseguiu desfazer o terceiro empate, e, com o jogo em 25/23, a sua face tensa e séria explodiu num sorriso enorme enquanto se lançava nos braços do seu treinador. Foi a primeira medalha de ouro para a Suécia nos jogos olímpicos de Barcelona. A ensurdecedora ovação no complexo desportivo e o entusiasmo dos suecos sugeria que algo de importância suprema acabava de acontecer.
Quando São Paulo viu uma competição semelhante, ficou a cismar como é que também nós poderíamos ser tão dedicados e disciplinados para vencer a glória eterna, como os atletas o fazem para ganha a saúde ou a sua medalha. Talvez fosse útil pensar no coro dos santos, anjos e arcanjos como se tratasse de entusiásticos espectadores e compreender que o próprio Rei está a ver-nos e espera poder dar-nos o ouro do seu amor eterno.
Um objetivo claro
Teremos nós um objetivo claro na vida? Para os atletas cujo objetivo é a obtenção da medalha olímpica todo o resto é secundário. A maneira de comer, dormir, estudar e treinar, tudo é determinado por esse objetivo claro.
Isto é tão verdade na vida espiritual, como o é na vida dos desportistas de competição. Sem um objetivo definido, estaremos sempre distraídos e gastaremos as nossas energias em coisas secundárias. “Tem os olhos postos nos prêmio”, dizia Martin Luther King ao seu povo. O que é o nosso prêmio? É a vida divina, a vida eterna, a vida com e em Deus. Jesus propôs-nos essa meta, esse prêmio celeste. Disse a Nicodemos: “Pois Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).
Não é fácil manter os olhos fixos na vida eterna, especialmente num mundo que
continua a dizer-nos que há coisas mais imediatas e urgentes em que concentrar a atenção. Raramente há um dia que não distraia a nossa atenção da meta e faça-a parecer vaga e nebulosa. Mas, mesmo assim, sabemos por experiência que, sem um objetivo claro, a nossa vida se fragmenta em muitas tarefas e obrigações que nos esvaziam e nos deixam com uma sensação de exaustão e inutilidade. Como manter então o objetivo claro, a nossa vida se fragmenta em muitas tarefas e obrigações que nos esvaziam e nos deixam com uma sensação de exaustão e inutilidade. Como manter então o objetivo claro, como fixar o nosso olhar no prêmio? Através da disciplina da oração; a disciplina que nos ajuda a trazer Deus de volta, para o centro da nossa vida, quantas vezes for preciso. Mesmo assim, continuaremos a cair em distrações, continuaremos constantemente ocupados com muitos assuntos urgentes, mas, quando programamos um pouco de tempo e espaço para voltar para Deus que nos oferece a vida eterna, gradualmente chegamos à conclusão de que as muitas coisas que temos que fazer, nos conduzem para mais perto da nossa meta. É importante, no entanto, que a nossa meta seja clara. A oração mantém a meta clara e se, porventura, o objetivo se tornar vago, a oração volta a dar-lhe definição.
A vida eterna
Vida eterna. Onde é que está? Quando será? Por muito tempo, pensei na vida eterna como numa vida depois de todos os meus aniversários se terem esgotado. Durante a maior parte dos meus anos, falei de vida eterna como numa vida depois de todos os meus aniversários se terem esgotado. Durante a maior parte dos meus anos, falei de vida eterna como o “pós-vida”. Preocupar-me com o amanhã, com o próximo ano, com a próxima década, e também com a próxima vida, parece-me uma falsa preocupação. Cismar sobre como é que tudo será para mim depois de morrer parece-me, em grande parte, uma distração. Se a minha meta é a vida eterna, então essa vida deve ser atingível já agora, onde eu estou, porque a vida eterna é a vida em e com Deus, e Deus está onde eu estou, aqui e agora.
O grande mistério da vida espiritual – a vida em Deus – é que não temos de esperar por ela como algo que acontecerá depois. Jesus diz: “Estai em mim como eu estou em vós”. É este divino “estar em” que é a vida eterna. É a presença ativa de Deus no centro do meu viver – o movimento do Espírito de Deus dentro de nós – que nos dá a vida eterna.
Seja como for, o que será a vida depois da morte? Quando vivemos em comunhão com Deus, pertencemos à própria casa de Deus, onde não há mais nenhum “antes” ou “depois”. A morte deixa de ser a linha divisória. A morte perde o seu poder sobre aqueles que pertencem a Deus, porque Deus é o Deus dos vivos e não dos mortos. Logo que tenhamos provado a alegria e a paz que vem do fato de sermos abraçados pelo amor de Deus, sabemos que tudo está bem e estará bem. “Não tenhais medo, disse Jesus, “Eu venci as forças da morte.... vinde morar comigo e ficai sabendo que, onde eu estou, aí está Deus”.
Se a vida eterna é a nossa meta, então não é uma meta longínqua. É uma meta que se pode alcançar no momento presente. Quando o nosso coração compreende esta verdade divina, estamos vivendo a vida eterna.
Henry J. M. Nouwen
Extraído do Livro " Mosaicos do Presente, Vida no Espírito
Editora Paulinas
Fonte: Site Celebrando Deus
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